aldo Sousa Troncha, ex-assessor do deputado federal Sérgio Souza (PMDB-PR), disse em depoimento à Polícia Federal (PF), que o atual ministro da Justiça Osmar Serraglio (PMDB-PR) participou da indicação de Daniel Gonçalves Filho para assumir a superintendência regional do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) no Paraná. Daniel Gonçalves Filho é considerado, pela PF, o líder do esquema de fraudes revelado pela Operação Carne Fraca.
Troncha disse não se lembrar a data exata da indicação, mas que se recorda que foi próximo ao ano de 2008. À época, Serraglio era deputado federal pelo PMDB do Paraná. Ele nega ter indicado o fiscal (leia mais abaixo).
No depoimento à PF, Troncha disse que o hoje ministro da Justiça fez parte de um grupo de sete dos então oito deputados federais do Paraná ligados ao PMDB que formalizaram a indicação de Daniel Gonçalves Filho para a superintendência.
Além de Serraglio, Troncha citou os nomes dos ex-deputados Moacir Micheletto, Max Rosenmann, Hermes Frangão Parcianelo e Odílio Balbinoti.
“Que não sabe precisar exatamente a data, porém recorda-se que próximo do ano de 2008 sete dos oito parlamentares (deputados federais), do Estado do Paraná ligados ao PMDB, formalizaram a indicação de Daniel Gonçalves Filho para novamente assumir a superintendência regional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento no Paraná, que apoiaram esta indicação os deputados Moacir Micheletto, Max Rosenmann, Hermes Frangão Parcianelo, Osmar Serraglio, Odílio Balbinoti, dentre outros”, diz o termo de declarações do ex-assessor.
Troncha se apresentou voluntariamente para prestar depoimento na sede da PF, em Curitiba (PR). Ele foi ouvido na quinta-feira (23).
Daniel Gonçalves Filho é ex-superintendente regional do Ministério da Agricultura no Paraná e é suspeito de ocultar imóveis em nome de terceiros. O fiscal está preso preventivamente – ou seja, por tempo indeterminado.
Em 2007, Daniel Gonçalves Filho foi nomeado para o cargo de Superintendente Federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento no Paraná. Na época, o ministro da agricultura era Reinhold Stephanes.
Na terça (21), a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) subiu à tribuna para dizer que, no período em que comandou o Ministério da Agricultura (2015-2016), foi pressionada por dois deputados do PMDB para não demitir Daniel Gonçalves Filho.Após o pronunciamento de Kátia Abreu, o G1 procurou a senadora, e ela declarou que os dois deputados que a pressionaram para manter Gonçalves Filho no cargo foram Osmar Serraglio e Sérgio Souza.A assessoria de Osmar Serraglio informou que o ministro “nega ter feito qualquer tipo de pressão” sobre a então ministra da Agricultura.
Outro lado
Osmar Serraglio negou a indicação e disse que o processo sobre Daniel Gonçalves Filho, do qual recebeu cópia, não tinha relação com fiscalização: “Não indiquei Daniel Gonçalves, quem indicou Moacir Micheletto. Era um processo que tramitou e que ele deveria ter aplicado uma pena e teria sido mais suave na aplicação da pena a um funcionário, não tem haver com fiscalização”, afirmou nesta sexta-feira (24) durante a inauguração de uma cadeia pública em Areia Branca (SE).
O G1 entrou em contato com o gabinete do deputado Hermes Parcianelo e foi informado que o parlamentar não se encontrava e que não havia ninguém no momento que pudesse falar sobre o assunto.
O G1 entrou em contato com a assessoria do ex-ministro Reinhold Stephanes, hoje deputado pelo PSD do Paraná, e não havia recebido um posicionamento até a última atualização desta reportagem.
O G1 não conseguiu contato com o ex-deputado Odílio Balbinoti. Os ex-deputados Moacir Micheletto e Max Rosenmann morreram.
Processo administrativo disciplinar
O ex-assessor parlamentar contou à PF que, à época da indicação, Daniel Gonçalves Filho respondia a um processo administrativo disciplinar no Ministério da Agricultura. Segundo Troncha, Daniel Gonçalves Filho se defendia no processo para evitar a suspensão do cargo de auditor fiscal agropecuário.
Troncha relatou, como consta no documento com o depoimento dele à PF, que Daniel Gonçalves Filho depositou R$ 5 mil na conta do ex-assessor para fazer uma cópia autenticada do processo administrativo. Esta cópia, posteriormente, foi encaminhada a Osmar Serraglio, Moacir Micheletto e Max Rosenmann.
O assessor afirmou não se lembrar do teor do processo administrativo e nem saber dizer por qual razão Daniel Gonçalves Filho tinha a intenção de levar o processo aos parlamentares.
Perguntado, o ministro Osmar Serraglio disse que o processo não tinha relação com o trabalho de fiscalização.
“Era um processo que tramitou e que ele deveria ter aplicado uma pena e teria sido mais suave na aplicação da pena a um funcionário, não tem haver com fiscalização”, afirmou Serraglio nesta sexta-feira (24).
Ministro é citado na Carna Fraca