A continuidade de Evo: Quatro pontos sobre o referendo da Bolívia neste domingo

Neste domingo, cerca de 6,5 milhões de bolivianos irão às urnas para dizer se querem ou não uma reforma constitucional para permitir que o presidente Evo Morales dispute mais um mandato na eleição de 2019.

Evo, de 56 anos, foi eleito pela primeira vez em 2005 e está cumprindo agora seu terceiro mandato seguido.

O governo costuma afirmar que este é seu segundo mandato, a partir da nova Constituição implementada na gestão do presidente boliviano.

País com cerca de 10 milhões de habitantes, de maioria indígena, a Bolívia tem vivido tempos de estabilidade econômica, com inflação controlada e crescimento em torno dos 4%, segundo dados oficiais e privados.

As últimas pesquisas de opinião divulgadas no início deste mês de fevereiro indicaram que Evo e sua gestão teriam em torno de 60% de aprovação popular.

No entanto, analistas destacam que episódios negativos recentes podem refletir no resultado de domingo – casos da notícia sobre uma suposta ex-namorada do presidente, que seria ligada a uma empresa chinesa com contratos com o governo, e da morte de seis pessoas em um protesto, nesta semana, na municipalidade de El Alto, antigo reduto eleitoral de Evo, em La Paz.

A suposta ex-namorada – e um suposto filho que teriam tido juntos – dominou as redes sociais dos bolivianos nos últimos dias.

Evo reconheceu que teve um filho com a empresária Gabriela Zapata, em 2007, e que a criança teria falecido. “Essa poderia ser a primeira eleição na qual Evo não teria índices acima dos 50% ou 60% dos votos favoráveis”, disse à BBC Brasil o analista político José Luis Gálvez, do instituto Equipos Mori.

Segundo ele, antes mesmo desses episódios, pesquisa do instituto indicava um virtual empate entre o “sim” e o “não” em torno dos 40%, com cerca de 19% de indecisos.

“A maioria aprova a gestão de Evo, mas esse apoio pode não ser refletido no respaldo à mudança constitucional para que ele busque mais um mandato”, disse Galvez.

Para o pesquisador Roberto Laserna, do Centro de Estudos da Realidade Econômica e Social (CERES), o governo “transformou” a campanha do referendo em um “verdadeiro plebiscito” da sua gestão.

“A campanha do ‘sim’ envolveu claramente a figura do presidente e sua administração. E a campanha do ‘não’ se fixou mais na defesa no respeito às leis, a constituição já em vigor”, disse por telefone falando de Cochabamba.

Entenda o referendo de domingo nestes cinco pontos:

O que está em jogo no referendo?

A possibilidade ou não de Evo Morales disputar mais um mandato presidencial.

Se o “sim” vencer, abrindo caminho para a reforma constitucional, Evo, que assumiu a Presidência em 2006, disputaria novo cargo em 2019.

Para analistas, se o sim vencer, mesmo que apertado, o presidente terá também poder político e a ausência de opositores fortes para o restante do atual mandato.

“A situação será diferente se o ‘não’ vencer”, disse Laserna. “Muitos poderão interpretar que se está acabando um ciclo político.”