A realidade do jogador invisível piora consideravelmente quando se acrescenta outro dado da CBF sobre um termo que assusta qualquer brasileiro: desemprego. Dos 28.203 atletas profissionais que tinham contrato assinado em 2015, somente 11.571 chegaram a janeiro de 2016 com contrato ativo. Quer dizer que 59% dos jogadores, seis em cada dez, ficaram desempregados no decorrer da temporada. A taxa de desemprego para todo o país, que bota medo no governo de Dilma Rousseff, está na casa dos 9%. Como tanta gente pôde ficar sem clube em tão pouco tempo? Houve 7.973 rescisões de contratos, equivalentes a 48% de todos os jogadores que perderam o emprego na temporada. Outros 52% são de pessoas cujos contratos foram feitos para acabar antes do fim do ano mesmo. Aí entra uma das justificativas para salário baixo e desemprego alto: falta calendário.
A maioria dos clubes contrata em dezembro, funciona de janeiro a abril, durante campeonatos estaduais, e fecha as portas durante todo o restante da temporada. Se não tem jogo, não entra dinheiro, e aí não tem jeito. Todo mundo vai para a rua se aventurar em outras profissões para botar comida na mesa. A maioria daqueles 16.632 jogadores de futebol que perderam o emprego no decorrer de 2015 tentou encontrar trabalho compatível com seu nível de instrução. Talvez alguns tenham virado serventes de obras, catadores de materiais recicláveis e garçons, profissões que pagam tanto quanto o futebol, mas não têm o mesmo apelo emocional na cabeça do atleta. Por que alguém sonha em ser jogador de futebol no Brasil? Desinformação. Reprodução de clichês. A ideia de virar um Neymar e enriquecer da noite para o dia, estatisticamente restrita a 0,8% dos jogadores brasileiros, faz com insistam na ilusão do futebol.