Ainda posso ouvir o grito do Soldado Chaves:  Acertaram o Tenente…”

O texto acima faz parte de um livro que esta sendo finalizado com o nome já definido: “Heróis Sem Medalhas”, que será lançado em 2018. Ele vai contar a grande batalha histórica travada pela Polícia Militar contra os coureiros na década de 80.

Naquela época, o Pantanal enfrentou uma das mais violentas batalhas contra a natureza e o homem pantaneiro.  Mais de 6 milhões de peles de jacaré, cerca de mil araras-azuis, peles de onça-pintada e sucuri foram para os Estados Unidos e Europa para atender o mercado da moda.

Passados 30 anos, a guerra é outra. Não existem mais tiros, apenas gritos, pedidos de socorro.

O pantaneiro taquarisano Luis Guilherme Lacerda, falecido, talvez de tristeza, viu sua propriedade ser totalmente tomada de forma permanente, pelas águas do Rio Taquari.  Eu alimentava uma esperança diária, quando indagado por ele, se o projeto de recuperação estava andando. De fato estava. No universo imensurável de desculpas e omissões de todos os segmentos, a despeito das diferentes teorias e estudos que defendem que nada pode ser feito, uma proposta de intervenção foi concebida. Por  falta de vontade política e recursos, foi deixada de lado.

No contraponto da riqueza das terras no planalto onde o hectare vale muito e a per capita cresce ano a ano, o leque aluvial do Taquari segue provocando sequelas nas pessoas, na natureza e na economia. Não é somente uma causa ambiental, afinal, estamos deixando de criar mais de meio milhão de cabeças. Deixamos de movimentar mais de 200 milhões de reais/ano e perdem o município de Corumbá e o governo.

Na dúvida e o risco de errar para responder quem paga a conta, poderíamos começar a conversar com os financiadores, o Banco do Brasil através do  FCO. Existe uma cláusula de responsabilidade ambiental? Qual o técnico ambiental que faz análise de viabilidade do projeto? Quais as exigências para liberar o recurso para estas áreas? Qual o percentual é revertido para recuperação de nascentes, contenção? O analista já ouviu falar da relação de causa e efeito do planalto com a planície?  Outra alternativa talvez, poderíamos cobrar um adicional nos pedágios que controlam os mais de 5 mil veículos diários da BR-163 no trecho de MS, agora duplicada para o conforto e segurança dos usuários, e que certamente contribuiria diretamente para consolidar o impacto na planície.

O Taquari saudoso, apenas sinaliza o que esta acontecendo dia a dia com os outros rios que drenam para alimentar o pantanal. Como uma planície sedimentar, ela recebe um grande volume de sedimentos. Este processo, acelerado pela mão humana e a perda da capacidade de transporte pela água, este material se acomoda no leito dos nossos rios.  Mais rasos, menos volume, menos peixes. A redução dos estoques pesqueiros é uma realidade. Alguém é capaz de afirmar ao contrário?  Nos falta coragem para decidir adotar pesque e solte definitivamente para pesca amadora. Para completar, estamos tirando mais de 10 milhões de iscas do pantanal para abastecer a pesca no Tocantins, Mato Grosso e Paraguai. Nossas imagens de pássaros, os ninhais, começam a ficar raras.

Não gostaria de me tornar um capítulo do livro Colapso, de Jared Diamond, onde ele relata a exemplo da Ilha de Pascoa, o que nós humanos fomos capazes de fazer para esgotar os recursos naturais, tornando-se vítima da própria ganancia. Pior do que isso, a omissão, pois ignorância não podemos alegar.

Que o grito das escolas de samba, que nos chamaram atenção nos seus carros alegóricos para a beleza e as ameaças da natureza,  a exemplo da Escola Portela na Marquês de Sapucaí, provoquem encantos e sejam ouvidos. Afinal, disse o poeta Manoel de Barros… “Não se mede o valor das coisas com régua, sim com o encantamento que ela nos provoca”.