Com Lava-Jato e restrições eleitorais, marqueteiros fogem de campanhas

A amigos, o marqueteiro Duda Mendonça tem dito que cansou de ser o “Judas”. Luiz Gonzalez, que comandou campanhas presidenciais para os tucanos, comenta em seu círculo que já não tem mais idade para essas “gincanas”. João Santana, artífice da reeleição de Lula e das duas eleições de Dilma, está atrás das grades, indiciado pela Polícia Federal e tentando defender-se das acusações de ter recebido dinheiro desviado da Petrobras como pagamento pelos seus serviços nas campanhas petistas.

Mesmo que estivesse livre, Santana cogitava um ano sabático, fora do Brasil. A saída de cena dos “magos” do marketing político, como são chamados com misto de admiração e escárnio no meio, não é fenômeno isolado. Além deles, dentre os oito profissionais experientes do mercado ouvidos pelo GLOBO, seis garantiram que recusarão esse tipo de trabalho. A explicação para a debandada é dupla: a nova legislação eleitoral, que proibiu doações empresariais e estabeleceu limites de gastos, e a Operação Lava-Jato. As duas circunstâncias combinadas devem mudar a cara do horário político.

— Tenho filho pequeno, se passar 15 anos preso, não o vejo – afirmou um marqueteiro que fez campanhas importantes no Nordeste.

Ele saiu do jogo. E explica:

— Se eu negar dinheiro não contabilizado, eles acabam nunca pagando pelos serviços. É um risco que eu não pretendo mais correr.

Quando Duda Mendonça admitiu, no bojo do processo do mensalão, ter recebido dinheiro ilegal pela campanha do ex-presidente Lula, em 2002, havia uma expectativa de que esse tipo de crime eleitoral fosse abandonado.

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A repercussão do caso, no entanto, não impediu que o caixa dois continuasse. A mulher de Santana, Mônica Moura, depois de presa pela Lava-Jato, reconheceu que pagamentos feitos em dólar pela empreiteira Odebrecht eram recurso não contabilizado de campanhas na Venezuela e em Angola. Mônica disse que o casal recebia recursos de caixa dois apenas quando os clientes exigiam tal condição. A suspeita dos investigadores é que Santana tenha recebido por fora da Odebrecht também nas campanhas petistas, e nos documentos apreendidos aparecem pagamentos a pelo menos mais dois publicitários.

— Qualquer pessoa que trabalhe no meio há algum tempo recebeu em caixa dois. Não dá pra negar — afirma outro profissional.

Mesmo os mais cautelosos com contabilidade não tem como saber de onde vieram os recursos.

— Está todo mundo com medo. De repente vai parecer que aquele dinheiro que você recebeu lá atrás foi desviado da Petrobras — diz um renomado marqueteiro.

POR MARIANA SANCHES

O Globo