ex-ativista de esquerda e acusado de terrorismo na Itália, Cesare Battisti, foi detido nesta quarta-feira (4), pela Polícia Federal, em Corumbá (MS), por suspeita de evasão de divisas.
A detenção ocorreu quando ele tentou atravessar a fronteira do Brasil com a Bolívia em um táxi boliviano. Segundo a Polícia Federal, ele possuía US$ 5 mil (o equivalente na cotação atual a R$ 15,6 mil) e € 2 mil (o que representa R$ 7,3 mil) e não havia declarado a quantia à Receita Federal, o que é crime.
De acordo com a Receita Federal, qualquer pessoa que esteja cruzando a fronteira do Brasil com mais de R$ 10 mil em espécie, seja em moeda nacional ou estrangeira, precisa fazer uma declaração chamada “Bens de Viajantes”.
Antes de ser detido na fronteira, Battisti foi abordado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) na altura do km 600, no posto Guaicurus, na BR-262. Ele estava em um carro particular com outros dois passageiros mas, por ainda estar em território nacional, o porte da quantia não configurava irregularidade.
Por se tratar de região de fronteira, os policiais rodoviários federais comunicaram a Polícia Federal, que realizou o acompanhamento do veículo até a divisa entre entre o Brasil e a Bolívia, no posto de fiscalização Esdras.
No início da noite chegou à delegacia um advogado de Battisti. Ele trazia lanche para o ex-ativista. Conforme a PF, ainda estão sendo ouvidas testemunhas do caso. Battisti deve participar de uma audiência de custódia na Justiça Federal em Corumbá para esclarecer os fatos.
Caso Battisti
O ex-ativista de esquerda Cesare Battisti foi condenado à prisão perpétua na Itália em 1993 sob a acusação de ter cometido quatro assassinatos no país nos anos 1970. Ele era membro do grupo Proletários Armados para o Comunismo (PAC).
Battisti então fugiu para a França, onde viveu por alguns anos, e chegou ao Brasil em 2004. O ex-ativista foi preso no Rio de Janeiro em 2007 e, dois anos depois, o então ministro da Justiça, Tarso Genro, concedeu a ele refúgio político.
A Itália recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra a concessão de refúgio para Battisti e pediu a extradição dele de volta ao país.
No julgamento realizado em fevereiro de 2009, os ministros negaram o pedido de liminar do governo italiano contra a decisão de conceder refúgio a Battisti, mas votaram pela extradição do ex-ativista. Entretanto, por 5 votos a 4, o STF definiu que a palavra final sobre a extradição caberia ao então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em 31 de dezembro de 2010, no último dia de seu governo, Lula recusou a extradição de Battisti.
Neste ano, o governo da Itália apresentou um pedido para que o Brasil reveja a decisão do ex-presidente Lula. O governo italiano considera o caso Battisti “uma questão aberta” com o Brasil e tem esperança de que Michel Temer cogite rever a recusa da extradição, afirmou ao G1 uma fonte que acompanha as discussões com as autoridades do governo federal.
O Planalto nega que esteja reavaliando a permanência de Battisti no Brasil. A assessoria da Presidência da República afirmou que Temer “não está analisando o caso”, e o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse que “não tratamos desse assunto”.
No fim de setembro, os advogados de Battisti entraram com um pedido no STF para impedir a possibilidade de Temer decidir extraditá-lo.
O italiano nega envolvimento nos homicídios e se diz vítima de perseguição política. Em entrevista em 2014 ao programa Diálogos, de Mario Sergio Conti, na GloboNews, ele afirmou que “nunca” matou “ninguém”.