Com alegria infantil, Maia e Alpha se divertem em meio a veículos que ocultam drogas. Mas o que parece brincadeira é arma contra a criativa engrenagem do tráfico. A experiente dupla de cães farejadores da PRF (Polícia Rodoviária Federal) usa o prodigioso sentido para revelar os inusitados esconderijos de entorpecentes no vale-tudo dos traficantes.
Numa manhã ensolarada, com aprazíveis 20ºC para um dia de Inverno, as cachorras treinam em um pátio tomado por veículos apreendidos. A brincadeira consiste em localizar o entorpecente, indicar para o policial e ser agraciado com uma recompensa.
No treinamento, acompanhado pelo Campo Grande News, os comandos partem sempre de um mesmo policial. Em tese, qualquer um que domine a técnica poderia executar o trabalho em parceria com o cão, mas só a convivência revela, por exemplo, quando o animal está inseguro ao entrar num veículo. Por isso, o conceito de duplas fixas.
No combate ao crime, Rafael Tavares faz parceria com a cachorra Alpha, da raça pastor alemão. O primeiro ponto que faz questão de esclarecer é de que o cão não fica viciado em droga. Segundo ele, o animal é exposto ao odor do entorpecente e, com o treinamento, ganha recompensa quando localiza a droga em lataria e bagageiro de veículos. No caso de Alpha, de 3 anos, o prêmio é uma bolinha, que ela não larga da boca, num sinal de missão cumprida.
O policial Thiago Cunha endossa que o treinamento não vicia os cães. “O cão farejador jamais tem o contato com a droga. O contato é com o odor”, afirma. Ele treina Maia, uma cachorra da raça pastor belga malinois. Ela tem dois anos e foi comprada pela PRF, por meio de licitação, aos sete meses. Ao encontrar a droga na lataria de um veículo, ela bate as patas no local que camufla o entorpecente.
Para ganhar o título de farejador, o cão precisam ter traços específicos de personalidade, como ser brincalhão, possessivo e sociável. “O cão de serviço, principalmente no faro de drogas, tem que ter impulso de caça. Um cão que goste de investigar, de ter a posse do brinquedo. Ele tem que querer o brinquedo de qualquer forma”, afirma Thiago Cunha.
A “aposentadoria” do cão farejador é obtida após oito anos de trabalho policial. Em geral, ele fica com o guia. A segunda opção é ser doado para outro servidor público. Caso o animal não seja adotado, o cão é custeado pela polícia até o fim da vida.
O cão é capaz de sentir odor 40 vezes mais do que uma pessoa. “Enquanto o ser humano tem cinco milhões de células olfativas, a média do cão é de 200 a 250 milhões”, explica Thiago.
No Estado, o GOC (Grupo de Operações com Cães) da PRF ainda conta com os trabalhos de Bella, uma pastora belga malinois capaz de identificar drogas, armas e munição. Em abril deste ano, o trio de farejadores localizou 19 quilos de maconha em um Tucson, que passava pela BR-060. Três homens foram presos.
Rota e mercado – Alvo dos cães farejadores, a maconha e a cocaína atravessam Mato Grosso do Sul, ao mesmo tempo rota e mercado consumidor. Em 2015, foram tirados de circulação 7,2 toneladas em Mato Grosso do Sul. Em 2016, as apreensões somam 3,6 toneladas. Os números correspondem as apreensões da PRF e Polícia Federal. Em Campo Grande, o quilo da cocaína é avaliado em R$ 20 mil.