Investimentos do Estado em logística em Murtinho avançam fronteira agrícola no Sudoeste

Áreas improdutivas e de pastagem estão sendo ocupadas pela soja e milho na região Sudoeste de Mato Grosso do Sul, avançando nas margens da rodovia BR-267 em direção a Porto Murtinho. O município, antes isolado na fronteira ao Paraguai, passa a contar com infraestrutura portuária que barateia os custos de logística, encurta distâncias e agrega valor aos produtos exportados para o mercado internacional pela Hidrovia do Paraguai.

Segundo dados da Semagro (secretaria estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar), em um ano 250 mil hectares na região foram incorporados a agricultura. As lavouras de soja se estendem de Jardim a 120 quilômetros de Porto Murtinho, chegando à região serrana. Armazéns graneleiros foram instalados na beira da BR-267, a rodovia da Rota Bioceânica, em terras onde o boi era soberano até recentemente.

Implementos agrícolas circulam na BR-267: fronteira agrícola avança na região Sudoeste com nova rota de exportações

“A expansão da agricultura ocorre compartilhada a pecuária, fortalecendo assim duas atividades que sustentam o nosso agronegócio”, afirma Jaime Verruck, titular da Semagro. O movimento de caminhões boiadeiros pela rodovia federal foi superado pelo comboio de bitrens carregados de grãos em direção aos portos de Murtinho. Na mesma via, é comum o tráfego de implementos agrícolas, como colheitadeiras, adquiridos pelos novos produtores.

Hidrovia barateia custos

A expansão da nova fronteira agrícola é resultado de uma política do Governo do Estado voltada a implementação do transporte fluvial por uma hidrovia estratégica para garantir competitividade aos produtos primários de Mato Grosso do Sul. Os incentivos fiscais atraíram investidores e tornaram Porto Murtinho em um grande hub logístico da América do Sul, ou seja, um importante centro de exportação e importação do continente.

Estado implantou rotatória no centro de triagem de veículos, que ordenará fluxo de cargas para os terminais portuários

“Nas últimas décadas o Brasil virou as costas para o Rio Paraguai, que concentrou no início do século passado um grande movimento comercial com os países vizinhos e com a Europa”, afirma o governador Reinaldo Azambuja. “Hoje estamos vivenciando um novo desenvolvimento hidroviário na região, garantindo competividade ao Estado e um ganho extraordinário aos nossos produtores, com redução de até 40% no custo do frete.”

Jaime Verruck observa que a viabilização da nova rota natural de escoamento de comodities, com o setor produtivo se livrando dos gargalos logísticos e aduaneiros nos portos de Paranaguá e de Santos, é resultado de uma ação de governo ao lançar em 2015 o PROEXP (Programa de Estímulo à Exportação ou à Importação pelos Portos do Rio Paraguai). O Estado ofereceu incentivos fiscais e atraiu novos investidores à hidrovia.

Com recursos do Fundersul, Estado construiu anel viário de 7 km, desviando tráfego pesado da BR-267 para os terminais portuários. Foto: Edemir Rodrigues

“Os resultados vêm sendo colhidos ao longo desses anos, com a intensificação dos embarques e a entrada em funcionamento de novos terminais. Porto Murtinho se tornará a Nova Paranaguá com a projeção de três novos portos em processo de licenciamento”, afirma o secretário. Verruck destaca os investimentos do Estado em infraestrutura no município e a pavimentação de rodovias que integram o corredor do agronegócio em direção à fronteira.

Porto volta a operar

Com atividades suspensas desde agosto do ano passado, por conta do baixo nível do Rio Paraguai, o terminal portuário da empresa FV Cereais, um dos maiores exportadores de comodities do Estado, volta a operar em Porto Murtinho. O grupo tem contratos para movimentar 400 mil toneladas de grãos no ano e inicia nesta segunda-feira o primeiro carregamento de 20 mil toneladas de soja aos portos argentinos.

Porto Murtinho volta a movimentar cargas para a Argentina: terminal da FV terá três embarques em fevereiro

O volume de cargas depende do calado do rio, que chegou a 3,6 metros no dia 2 de fevereiro e começa a declinar com a falta de chuvas, chegando a cota de 2,70 metros – nível de restrição para grandes comboios. Mesmo assim, o terminal projeta três embarques em fevereiro, com um total de 60 mil toneladas com destino aos portos de San Lorenzo e Timbues, na província argentina de Santa Fé. A movimentação de caminhões começou no fim de semana.

O volume das exportações pela zona portuária de Porto Murtinho cresceu 57,83% no acumulado de janeiro a dezembro de 2020 em relação ao mesmo período de 2019, em função da entrada em atividade do terminal FV Cereais e do incremento nas estruturas da APPM (Agência Portuária de Porto Murtinho), primeiro porto alfandegado. Foram escoadas 384 mil toneladas, sendo 250 mil pela FV Cereais. Em 2019, foram 233 mil toneladas.