A sintonia entre grupo de jogadores e direção do Inter já não é tão fina assim. Ainda que Alex – escudado por Danilo Fernandes, Ceará, Paulão, Ernando e Rodrigo Dourado – tenha esclarecido que não foi obrigado a realizar a manifestação da última quinta-feira – que culminou com novos desdobres até a fala de sexta –, ficou evidente o ruído entre as partes.
O ápice foi o episódio de quinta. O grupo todo se dirigiu até a sala de imprensa do Beira-Rio e afirmou que a consternação pela tragédia com o voo da Chapecoense os deixava sem forças para disputar a última rodada do Brasileirão diante do Fluminense. Só que, ao contrário do que afirmou o diretor de futebol Ibsen Pinheiro, a cúpula já tinha ciência da postura dos comandados de Lisca.
Os atletas, aliás, acabaram pegos de surpresa pela declaração de Vitorio Piffero. O presidente, tão logo o grupo saiu, adentrou ao recinto. E, apesar de apoiar a decisão dos colorados, declarou que não “abria mão de nada” e que o Brasileirão ficaria “incompleto” sem a disputa derradeira.
A postura do mandatário surpreendeu e incomodou o vestiário, conforme apurou o GloboEsporte.com. Os jogadores se sentiram usados em razão da situação do clube, que ingressou com uma ação para que o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) analisasse uma suposta inscrição irregular de Victor Ramos, do Vitória, e resolveram fazer nova manifestação na tarde de sexta, antes do treino, na qual confirmaram que aceitam o rebaixamento mesmo que não entrem em campo no último jogo.
– Se for o caso de acabar o campeonato e formos rebaixados, aceitaremos porque fizemos por merecer. Não queremos cancelar o campeonato nem melar o último jogo, tanto que falei em respeito a todos os envolvidos (na tragédia) – Chapecoense, jornalistas, famílias. Se tiver, jogaremos, mas nada se compara ao sentimento. Disseram que viemos porque a diretoria nos pediu, obrigou. Isso não existe. Expusemos aquilo que temos sentido. No momento que existiu a dúvida se o Inter se permitia ser rebaixado, nunca nos omitimos por esse campeonato horrível que fizemos – esclareceu Alex.
Lisca, que evitou entrar no atrito entre as partes, também já sabia da postura dos pupilos. Antes da primeira manifestação, foi informado sobre a tristeza que tinha acometido o vestiário. Pediu aos atletas para tentar esquecer a tragédia e reunir forças para lutar contra o rebaixamento, mas entendeu a dor e ficou ao lado deles. Tanto que, na declaração de quinta, estava com todos os colorados.
– A maioria dos jogadores falou a vocês (jornalistas) que não estão em condições. Eu respeito. São homens, pais de família. Preciso agir. Tenho que preparar o Inter caso tenha a rodada. É o meu papel. Fui contratado para isso. Estou em um momento muito positivo da minha carreira. Preciso ter muita atenção. Tenho que valorizar minha oportunidade – limitou-se a dizer Lisca.
Reação da direção e do STJD
Em entrevista à Rádio Gaúcha, Ibsen Pinheiro negou que a primeira manifestação dos colorados e a de Piffero fossem uma estratégia para o Colorado tirar proveito do acidente que deixou 71 vítimas fatais e seis feridas.
– Primeiro, não foi o Inter. Foram os atletas que, por mais relevantes que sejam, não falam pelo clube, falam por si. E, segundo, não foi pedido de cancelamento, porque o cancelamento produz efeitos que ninguém pode imaginar quais sejam. O que os atletas disseram é que não se sentem em condições de entrar em campo – reforçou o dirigente.
As reiteradas declarações da diretoria colorada também causaram desaprovação de quem toca o assunto nos bastidores. Houve um pedido para evitar novos pronunciamentos que possam complicar ainda mais a situação do clube.