SÃO PAULO — Estados vizinhos ao Rio não escondem preocupação com a intervenção federal. Embora considerem necessária a medida, São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo já se articulam para estabelecer uma estratégia que tente evitar uma possível migração de criminosos do Rio para esses estados. Uma reunião deve acontecer na próxima semana com dirigentes da área de segurança pública. A ideia é traçar um plano estratégico para que o tráfico não ganhe ainda mais espaço em áreas já sob a ocupação do crime organizado nessas regiões.
A segurança nas fronteiras também é uma preocupação dos estados. O governador do Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB), defende a presença das Forças Armadas para guardar os mais de 1.400 quilômetros de fronteira seca que separam o estado da Bolívia e do Paraguai.
— Já apresentamos projeto neste sentido ao Ministério da Justiça, e entendemos que não adianta combater o problema da droga nos morros do Rio e nos grandes centros se não blindarmos as nossas fronteiras — afirmou ontem Azambuja ao GLOBO.
As estradas no Mato Grosso do Sul são consideradas o maior corredor de distribuição de drogas e armas da América do Sul, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Em 2016, de acordo com o relatório, a polícia apreendeu duas mil toneladas de drogas em solo brasileiro — um quarto só nas rodovias da região. O governador de Rondônia, Confúcio Moura (MDB), faz coro ao colega do Mato Grosso do Sul. Segundo ele, só duas bases fazem o patrulhamento de mais de 1,2 mil quilômetros de fronteira com a Bolívia.
— Estamos completamente desguarnecidos. Há circulação livre de barcos para lá e para cá. Precisamos descontingenciar recursos para botar as Forças Armadas nas fronteiras.
Moura ainda criticou a intervenção no Rio de Janeiro:
— Essa intervenção é uma atitude última para dar uma resposta imediata à situação. Mas não resolve, porque o Rio de Janeiro é apenas o efeito. A causa está nas fronteiras brasileiras, na ausência da presença do Estado nessa extensa fronteira — diz ele. — Se o governo não encarar o problema real, o resultado vai ser decepcionante — reforça o governador.