Presença de autoridades não afasta criminosos de bairro nobre da Capital

O Carandá Bosque, rankiado pelo IBGE como um dos cinco bairros mais importantes de Campo Grande, abriga algumas das personalidades mais influentes da política e do judiciário de Mato Grosso do Sul, começando pelo prefeito Marquinhos Trad, juízes, promotores de Justiça, desembargadores e secretários do Governo do Estado. No entanto, ao contrário do que se poderia supor, são comuns relatos de moradores sobre assaltos de pedestres nas ruas e furtos a residências do bairro.

Nesta quarta-feira, 05, o Campo Grande News esteve no Carandá Bosque, ouviu pessoas nas casas, nas ruas, no comércio da Avenida Vitório Zeola, uma via comercial que corta o bairro, mas a sensação de insegurança é tamanha que ninguém admitiu ser identificado, sob alegação de medo de represália dos bandidos.

Uma moradora próxima ao Centro de Convenções Albano Franco disse que os moradores tentam se proteger trocando informações via WhatsApp, e nos grupos praticamente todos os dias são relatados casos de furtos em residências.

“Nos últimos quatro dias foram três residências invadidas, duas em um só dia, e os assaltantes devem ser os mesmos, porque o modo de agir é sempre igual. Usam sempre um carro preto, tem uma pessoa de moto que fica rodando na rua enquanto eles limpam as casas”, disse ela.

Nesta mesma parte do bairro, os furtos são cada vez mais frequentes em residências nas ruas Yolanda Giordano e Jacy Rios. As casas são equipadas com alarmes, cerca elétrica e câmeras, mas nem isso inibe a ação dos bandidos.

“Tem um pessoal em um carro preto vindo aqui quase todo dia. Uma pessoa sai para apertar o botão da campanhia das casas e volta para o carro, acho que testando pra ver se tem gente”, revelou o funcionário de uma obra na Yolanda Giordano.

“Tudo isso acontece no bairro que mora o prefeito. Não temos o mínimo de segurança”, lamentou o proprietário de um posto de gasolina na Vitório Zeola. Segundo ele, o posto inaugurado em 2001 já sofreu 10 assaltos. “São ações rápidas, geralmente no fim da tarde. Eles chegam, fazem ameaças com armas e levam o que tiver no caixa”, comentou.

Foram tantos assaltos desde a inauguração do posto que ele diz nem se incomodar mais. “Se eu contrato um vigia, ele não pode usar arma, e se contrato um segurança de uma dessas empresas especializadas tenho que investir até R$ 8 mil por mês, então fiz as contas, considerando os 10 assaltos desde 2001, e cheguei a conclusão de que na média sai mais barato ser assaltado”, admitiu.

É uma postura de descrença na capacidade do poder público oferecer segurança, que se confunde com medo dos moradores, e muitos nem registram mais boletins de ocorrências, os chamados BOs.

“Isso prejudica o trabalho da polícia, porque os BOs são a base das estatísticas, e é com base nas estatísticas que a polícia consegue identificar os pontos onde acontecem a maior incidência de roubos”, diz o tenente Valdemir da Silva Andrade, comandante do 9º Pelotão da Polícia Militar, que atua na região da Vila Margarida e Carandá Bosque.

Segundo ele, foi com base em BOs que a polícia identificou dois pontos críticos na Avenida Vitório Zeola e na Rua Olímpio Klaske, e as duas áreas passaram a receber policiamento mais ostensivo. “É dever da polícia fazer a segurança, mas também é dever do cidadão registrar as ocorrências”, ressaltou.

Praça do Carandá Bosque, que segundo os moradores ouvidos por nossa equipe quase ninguém do bairro frequente por medo de bandidos (Foto: Alcides Neto)

“Não faço mais BO porque não adianta. Perco um dia inteiro na delegacia e só entro para a estatística, porque a polícia não resolve nada”, lamentou uma moradora da rua das Folhagens, próxima da praça do bairro.

Ela afirmou que quase ninguém do bairro frequenta a praça, mesmo durante o dia, e à noite muito menos. “Todos os dias vejo indivíduos passando de moto ou de bicicleta, nitidamente observando o movimento dos moradores. A moça que trabalha na minha casa foi assaltada duas vezes. Em dias diferentes, foi uma vez na chegada e outra na saída, o que mostra que os ladrões conheciam a rotina dela”, afirmou.

Embora os moradores ouvidos pelo Campo Grande News tenham afirmado que a polícia só é vista no Carandá quando é chamada para atender ocorrências, o tenente Valdemir da Silva Andrade garantiu que um efetivo da PM faz ronda diariamente pelo bairro.

“Temos os conselhos municipais de segurança, que estão abertos para a participação das comunidades, e isso pode ajudar. Fazemos reuniões mensais e qualquer cidadão pode participar. Basta procurar o 9º pelotão da PM, e também podem me ligar no meu telefone funcional – 67 99668 0660 – que daremos as orientações”, sugeriu o tenente.

Moradores informaram que a polícia só vista nas ruas do bairro quando chamada para atender ocorrências (Foto: Alcides Neto)

Moradores informaram que a polícia só vista nas ruas do bairro quando chamada para atender ocorrências (Foto: Alcides