Tempo e mancha por doping são os rivais de Anderson em Londres

No hoje distante ano de 2006, o até então pouco conhecido Anderson Silva fazia a última de duas quatro lutas na Inglaterra, nocauteando em grande estilo o americano Tony Fryklund com uma cotovelada de baixo para cima e aumentando ainda mais o status de promessa de craque do MMA. Dez anos depois, com 40 anos de idade e uma carreira consolidada, alçado por muitos ao posto de maior lutador de todos os tempos, e despencando do pedestal da idolatria após duas derrotas para Chris Weidman e um inédito e surpreendente caso de doping que lhe rendeu um ano de suspensão, o brasileiro retorna à cidade na qual um dia foi consagrado para se reencontrar com sua história. A luta principal do UFC Londres, que acontece na O2 Arena, contra o ídolo local Michael Bisping, é a chance que o Spider tem de voltar a trilhar o caminho da reconquista do cinturão dos pesos-médios, que foi seu pelo tempo recorde de quase sete anos, ou pelo menos o da redenção com o status de ídolo de toda uma geração de fãs e atletas.

– Para mim isso (doping) é passado. O novo Anderson chegou. Estou aqui para trabalhar e vencer. Este é meu primeiro desafio em muito tempo. Estou esperando pelo seguinte, depois o seguinte, depois o seguinte – limitou-se a dizer o ex-campeão sobre o episódio polêmico, no qual foi pego pelo uso das substâncias proibidas drostanolona e androsterona, mas alegando que usou, na verdade, um estimulante sexual de origem tailandesa.

Anderson Silva x Michael Bisping encarada UFC Londres MMA (Foto: Getty Images)
Anderson Silva x Michael Bisping: encarada tensa na pesagem oficial (Foto: Getty Images)

O Combate.com acompanha o UFC Londres deste sábado, que ao todo terá 13 lutas, em Tempo Real a partir das 14h45 (horário de Brasília). A partir das 17h transmitiremos ao vivo as últimas informações do evento. Ronaldo Jacaré será o nosso convidado. Participe com a #SpiderNoCombate. O canal Combate exibe todas as lutas ao vivo e com exclusividade a partir das 14h30.

Há quatro anos sem ter uma vitória em seu cartel – a luta contra Nick Diaz no UFC 183, em 2015, foi convertida em “Luta sem Resultado” por conta do doping acusado nos exames feitos antes e após o torneio -, Anderson Silva se mostra tranquilo ao falar sobre a pressão de voltar a ocupar um lugar na fila dos desafiantes ao cinturão dos pesos-médios. Experiente, desconversa sobre o tema. Mas, segundo pessoas próximas, é fato que ele está com saudade de ser campeão.

Anderson Silva cantando (Foto: Reprodução/Twitter)
Anderson Silva mostra tranquilidade cantando no hotel do UFC em Londres (Reprodução: Twitter)

– Deixo a vida me levar. Fiquei com esse cinturão durante oito anos. Não tem muita surpresa. Se eu me credenciar de novo a lutar… Porque ainda estou lutando no UFC, sou competidor. Se houver essa oportunidade, claro que vou lutar. Mas não é uma coisa que estou buscando 100%. Estou buscando agora ser feliz.

Nos eventos oficiais do UFC, o clima cordial com Bisping foi deixado de lado. Na encarada que antecedeu o “media day” da última quinta-feira, Anderson Silva imitou um gesto de seu ídolo, Bruce Lee, mexendo no nariz, e se recusou a apertar a mão do rival, que oferecera o cumprimento. Napesagem, novamente muita provocação, com os dois até encostando as testas na encarada. Teve ainda silenciosa por parte de Anderson e barulhenta pelo lado de Bisping e da torcida, que se mostrou claramente a favor do dono da casa. Para o inglês, apesar da decepção, a atitude do brasileiro não foi uma surpresa

– Anderson parece que não gosta muito de mim. Eu ofereci a ele um aperto de mão, e ele mais uma vez não falha quando o assunto é decepcionar. Cai no antidoping, não aperta uma mão que lhe é estendida (…) Eu entrei na sua cabeça, e quanto mais eu vejo que consigo, mais eu falo sobre o assunto. Ele não apertou a minha mão e perdeu a chance de mostrar boa esportividade. Mas no fim das contas é uma luta, somos profissionais e não tenho problema algum com Anderson Silva. Quando a luta acabar, eu adoraria levá-lo para jantar. O dia seguinte à luta é o meu aniversário, e acho que vou ter muito o que comemorar – disse o inglês, que vem de duas vitórias seguidas e espera ser agraciado com uma disputa de título caso vença o combate.

Outro brasileiro no evento, Thales Leites encara Gegard Mousasi

De certa forma ofuscado pela luta principal, o também peso-médio Thales Leites faz o co-evento principal da noite contra o iraniano naturalizado holandês Gegard Mousasi.

Gegard Mousasi e Thales Leites UFC Londres (Foto: Getty Images)
Gegard Mousasi e Thales Leites fazem o co-evento principal do UFC Londres neste sábado (Foto: Getty Images)

– Ele é um cara bem perigoso, bem rodado e experiente. Um dos principais pontos que vejo nele é a frieza que mostra na luta. Ele luta para frente e é bem frio. Vejo ele desperdiçando poucos golpes. É um cara perigoso, que tem a trocação excelente, boa defesa de quedas e também chão. Ele é um lutador completo e, para ser top 10, tem que ser completo, não tenha dúvidas disso. Estou preparado para tudo, já estudei muito o jogo dele. Já vinha vendo as lutas dele antes, sabendo que um dia a gente poderia estar em rota de colisão – disse o brasileiro.

Para Mousasi, que dificilmente muda de fisionomia ou mostra algum tipo de emoção antes, durante ou depois da luta, o trabalho todo foi feito, e o que mais o incomodou foi o cansaço pós-voo na chegada à Inglaterra.

– Realmente, o meu maior incômodo foi com o “jet lag”. Nos primeiros dias fiz treinos mais leves por causa disso, mas depois estava treinando normalmente. O trabalho todo já foi feito e estou pronto para a luta. Sei que Thales é um adversário duro e perigoso, porque precisa se recuperar de uma derrota – disse o veterano.